segunda-feira, 25 de abril de 2011

O dia em que o Céu se calou

A música já não tem sentido, o som que ecoava pelos céus se tornou extinto e os Querubins e Serafins não mais enfeitam mais minha orquestra. Este foi o dia em que o Céu se calou.
Quando algo se cala, é porque esta na hora de escutar. Escutar o som do coração que murchou? Creio que é do grito que minha mente em desespero dá de sua falta.
Minha imortalidade não se faz sentir presente. Quando se faz presente, que desespero me bate, só de pensar em viver para sempre em meu luto de surdez.
Aqui no céu sente-se uma presença fúnebre do seu partir, e minha existência se tornou superficial. Que silêncio, que agonia estar em um lugar onde a música já não toca mais.
Lembro-me perfeitamente de minhas visitas aos tolos mortais. Tolos mais invejados por mim. Como gostaria de viver sabendo que terei um fim. Me sentava em uma praia deserta ao por do sol, e com o estalar de um dedo sentado na areia eu via todo um filme: você andando pela areia sozinho olhando o mar, trazendo um violão nas costas segurado por uma das mãos e corpo semi nu ao som de Garota de Ipanema. Como era mágico quando a música se fazia sentida.
Um tempo depois pedi minhas desculpas e perdões aos meus irmãos, pois tinha mutilado minhas asas e cortado meus pulsos. Deixei que escorresse todo o divino sangue de que foi concebido, e na minha saída cuspi na fonte de onde saía a desejada Ambrosia. No portão um dos anjos veio se despedir de mim, disse-lhe para não se preocupar que o Sol amanhã continuará a brilhar, o céu continuará azul, e as nuvens continuarão lindas pois o trabalho deles é independente do meu, mais eles terão que brilhar sem minha música.
Assim que os portões do Céu se fechou não olhei para trás, apenas escutei um imenso estrondo ensurdecedor que não me fez ver mais nada. Em seguida acordei em um lugar mais humano e menos divino, me olhei e vi que não era mais um anjo. Agora lágrimas caem de meus olhos como se fossem nascentes para algum rio. Agora eu choro, sofro e sinto dor, pois antes as lágrimas eram as invisíveis de minha alma, por ter deixado que partisse.
A vida que era invejável por mim, agora já não tem mais tanto encanto. Não sei para onde ir, não sei o que seguir, mas de uma coisa eu sei: não posso voltar atrás.
Trouxe de lembrança comigo um instrumento, para que algum dia a musica volte e eu tenha em mãos aquilo para que eu possa alimenta-lo. Mas agora que você jaz em minha vida, eu posso dizer: É tarde de mais.
E este foi o dia em que o Céu se calou.


Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo sorrindo se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor